Texto de: Carlos Alexandre
Introdução
Neste artigo, vamos explorar as novidades do React 19.2 e como essa atualização impacta a maneira como gerenciamos efeitos colaterais e o desempenho de componentes.
O React 19.2 traz um novo hook fundamental, o useEffectEvent, resolvendo problemas crônicos de dependências desnecessárias no useEffect. Além disso, a nova versão introduz o componente <Activity /> para gerenciar de forma inteligente o ciclo de vida de UIs inativas (como abas) e o cacheSignal para controle fino sobre o cache de dados.
Com melhorias em Server-Side Rendering (Partial Pre-rendering) e novas ferramentas de profiling, essa versão promete componentes mais resilientes e fáceis de otimizar. Vamos entender essas mudanças e como refatorar seus projetos para aproveitar ao máximo o React 19.2!
Novo componente <Activity />
Uma das novidades mais impactantes do React 19.2 é o componente <Activity />. Ele permite que você divida sua aplicação em "atividades" (como abas ou páginas) que podem ser controladas e priorizadas de forma inteligente.
Na prática, ele oferece uma alternativa muito mais poderosa à renderização condicional tradicional que usamos para exibir ou ocultar componentes.
Onde antes você faria isso:
// Antes
{isVisible && <Page />} Agora, você pode fazer isso:
// Depois
<Activity mode={isVisible ? 'visible' : 'hidden'}>
<Page />
</Activity> Como Funciona: Modos visible e hidden
No React 19.2, o <Activity /> suporta dois modos principais:
visible: O comportamento padrão. Mostra os filhos, monta os efeitos (comouseEffect) e permite que as atualizações sejam processadas normalmente.hidden: aqui está a grande vantagem. Este modo oculta os filhos, desmonta os efeitos (limpando event listeners ou subscriptions ativas) e adia todas as atualizações de renderização desse componente até que o React não tenha mais nada prioritário para fazer.
O Impacto no Desempenho e UX
O benefício principal é que você pode pré-renderizar e continuar a renderização de partes ocultas do seu aplicativo sem afetar o desempenho da UI que está visível na tela.
Isso ajuda a tornar as navegações muito mais rápidas e fluidas de duas maneiras:
- Pré-carregamento: você pode usar o
<Activity />para renderizar partes ocultas para as quais o usuário provavelmente navegará em seguida, já carregando dados, CSS e imagens em segundo plano. - Preservação de Estado: Permite que as navegações de "retorno" mantenham o estado anterior, como a posição do scroll ou campos de formulário preenchidos, melhorando drasticamente a experiência do usuário.
A equipe do React também já indicou que planeja adicionar mais modos ao <Activity /> no futuro para cobrir ainda mais casos de uso.
useEffectEvent: Isolando Lógica de Eventos da Reatividade
Se você usa React há algum tempo, é quase certo que já enfrentou o dilema clássico do useEffect: você precisa ler um prop ou state dentro do efeito, mas não quer que o efeito execute novamente só porque esse valor mudou.
Um padrão comum é notificar o usuário quando um sistema externo se conecta, como uma sala de chat.
O Problema
Veja este código:
function ChatRoom({ roomId, theme }) {
useEffect(() => {
const connection = createConnection(serverUrl, roomId);
connection.on('connected', () => {
// O 'theme' é necessário aqui
showNotification('Connected!', theme);
});
connection.connect();
return () => {
connection.disconnect()
};
}, [roomId, theme]); // <-- O 'theme' é uma dependência
// ...
} O problema com o código acima é que uma simples alteração no theme (como mudar de light para dark mode) fará com que o useEffect execute novamente, forçando uma reconexão desnecessária da sala de bate-papo. Isso faz sentido para o roomId, mas não para o theme.
Até agora, a solução comum era desabilitar a regra do linter e excluir theme das dependências. Isso é perigoso, pois o linter não pode mais ajudar a encontrar bugs se o efeito precisar realmente de novas dependências no futuro.
A Solução com useEffectEvent
Com o useEffectEvent, você pode separar a parte do “evento” (a notificação) da lógica do Efeito (a conexão):
function ChatRoom({ roomId, theme }) {
// 1. A lógica do evento é extraída
const onConnected = useEffectEvent(() => {
showNotification('Connected!', theme);
});
useEffect(() => {
const connection = createConnection(serverUrl, roomId);
connection.on('connected', () => {
// 2. O Evento de Efeito é chamado
onConnected();
});
connection.connect();
return () => connection.disconnect();
}, [roomId]); // ✅ 'onConnected' não é uma dependência
// ...
} Semelhante aos eventos do DOM (como onClick), os "Eventos de Efeito" criados com useEffectEvent sempre "veem" os valores mais recentes de props e state (como theme), mas eles próprios nunca são incluídos no array de dependências.
Observação: Para que isso funcione corretamente, você precisará atualizar seu linter para a versão mais recente (eslint-plugin-react-hooks@latest), que já entende que useEffectEvent não deve ser tratado como uma dependência.
Quando Usar o useEffectEvent
O time do React destaca que você deve usar o useEffectEvent para funções que são conceitualmente "eventos" disparados por um Efeito (como "conectado", "mensagem recebida"), e não para eventos disparados diretamente pelo usuário (como onClick). Não é uma ferramenta para simplesmente silenciar o linter, mas sim para modelar corretamente a lógica do seu componente.
cacheSignal: Otimizando o Ciclo de Vida do Cache (RSC)
Uma adição importante para quem trabalha com o ecossistema de Server Components é a nova API cacheSignal.
Importante: Esta feature é destinada exclusivamente para uso com React Server Components (RSC).
A função cache() do React já é usada em Server Components para deduplicar (memoizar) requests de dados, como um fetch. A novidade é que o cacheSignal permite que você saiba exatamente quando a "vida útil" desse cache acabou.
Basicamente, ele fornece um AbortSignal que você pode passar para suas requests. Isso permite que o React aborte o trabalho (como um fetch em andamento) quando o resultado não for mais necessário.
Veja como ele é usado em conjunto com cache:
import { cache, cacheSignal } from 'react';
// Envolvemos o fetch com o 'cache' para deduplicar requests
const dedupedFetch = cache(fetch);
async function MeuServerComponent() {
// Passamos o cacheSignal() como o 'signal' da request
await dedupedFetch(url, { signal: cacheSignal() });
// ...
} Por que isso é importante?
O cacheSignal permite que você limpe ou aborte o trabalho automaticamente assim que o resultado em cache não for mais útil. Isso acontece em três cenários principais:
- O React concluiu a renderização com sucesso.
- A renderização foi abortada (pelo usuário ou sistema).
- A renderização falhou devido a um erro.
Na prática, isso evita o desperdício de recursos do servidor com requests de dados que não serão mais utilizadas, garantindo uma otimização mais eficiente em arquiteturas de Server Components.
Conclusão: Código Mais Simples e Performático
O React 19.2 entrega um conjunto de ferramentas focado em resolver alguns dos problemas mais persistentes (e frustrantes) do desenvolvimento React.
Seja o "dilema das dependências" no useEffect — agora elegantemente resolvido com o useEffectEvent — ou a dificuldade em gerenciar o estado e o desempenho de abas inativas — agora tratada de forma nativa pelo <Activity /> —, esta versão foca em remover "workarounds" e nos dar APIs mais claras e com intenções óbvias.
O cacheSignal para Server Components também segue essa linha, dando aos desenvolvedores um controle fino sobre o ciclo de vida dos dados no servidor.
O próximo passo é começar a aplicar esses conceitos. Atualize seu linter (eslint-plugin-react-hooks), procure por aqueles useEffects complexos para refatorar e experimente o <Activity /> em suas navegações por abas.
Adotar essas ferramentas não é apenas sobre usar o que há de "novo", mas sobre escrever código mais simples, legível e, o mais importante, performático.
Referências
Para uma análise completa e todos os detalhes técnicos diretamente da fonte, confira o post oficial da equipe do React:
- Anúncio Oficial do React 19.2 - O post completo no blog oficial do React (em inglês)